Dr. Pedro Bertino Moreira
Oftalmologia Clínica e Cirúrgica
CRM-SP 127.789  CRM-DF 19885
Transplante da Camada de Bowman / Bowman Layer Transplantation

A camada de Bowman é uma fina camada da córnea humana, acelular (sem células), localizada logo abaixo do epitélio e sua membrana basal (estas últimas são as camadas mais superficiais da córnea, localizadas anteriormente ao estroma e ao endotélio). Apesar de extremamente delgada (cerca de 10 µm de espessura, isto é, a centésima parte de um milímetro), é altamente resistente, o que pode ser explicado pela disposição randômica de suas fibras de colágeno.

Recentemente, iniciaram-se estudos sobre o transplante da camada de Bowman em olhos humanos. A base teórica desta intervenção se baseia em restituir resistência à uma córnea que eventualmente esteja frágil (alteração da biomecânica da córnea) e protruindo (o que chamamos de ectasia).

A principal indicação desta intervenção consiste nos casos de ceratocone (ou outras ectasias da córnea), em que, devido ao afinamento e alteração biomecânica, a curvatura se altera muito e consequentemente a visão do paciente. A cirurgia está indicada quando o ceratocone está evoluindo e a curvatura se encontra muito fora dos números normais, gerando baixa visual e incapacidade de adaptação de lentes de contato rígidas.

Segundo trabalhos publicados recentemente, após a cirurgia existe geralmente uma diminuição na curvatura, o que pode ser o suficiente para reabilitar o paciente com correção óptica (lentes de contato ou óculos). Além disso, na maioria dos casos a doença para de progredir. Assim sendo, o transplante de camada de Bowman apresenta-se como mais uma alternativa para se postergar ou mesmo se evitar o transplante de córnea. Em alguns casos de alto risco isto pode ser muito vantajoso e deve ser discutido com o oftalmologista.

Como vantagens sobre o transplante de córnea, o transplante de camada de Bowman não apresenta risco da rejeição convencional, uma vez que o tecido é acelular, isto é, sem a presença de células. Outro ponto positivo é que o procedimento não precisa de pontos (suturas) e este é um dos motivos do pós-operatório ser geralmente de mais fácil acompanhamento.

Os riscos estão relacionados a possibilidade de infecção (possível em qualquer cirurgia) e a problemas de cicatrização na interface (a camada de Bowman é introduzida no meio da espessura da córnea do paciente).

Sobre as desvantagens em relação ao transplante convencional, o paciente deve ser avisado que há grande chance da necessidade de correção óptica (com óculos ou lentes de contato, dependendo do caso) para reabilitação visual após a cirurgia. E também de que se trata de um procedimento cujo principal objetivo é parar a progressão da ectasia sem a necessidade de transplante de córnea.

Vale ressaltar que no caso de um transplante de camada de Bowman em que não se conseguiu restaurar boa visão mesmo com correção óptica, um transplante de córnea pode ser posteriormente realizado.



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